Sobre o poder e a denúncia

Apesar do pouco glamour, eu treino.

Gosto de musculação e levo a sério: antes de tudo, é saúde a longo prazo. Hoje tenho o corpo no lugar, e isso é bastante agradável. Mas há um mito no que contam — parece que é só força e mais força, que não se pode parar ou recuar. A verdade é que existe algo muito bom: a energia. Quem pratica atividade física regularmente carrega uma energia diferente. É começar cada projeto com ânimo e avançar com fôlego.

Na academia, sempre há aqueles que treinam no mesmo horário, mas ficam mais afastados. Nesta semana, alguém assim se aproximou e perguntou:
— Qual a dica boa pra manter o foco no treino?

A conversa foi boa, mas depois percebi que poderia ter dado uma resposta melhor. Só que, antes disso, quero aproveitar a pergunta para falar do que rouba o foco — e não é sobre treino.

No esporte, todos sabem: não se olha de forma invasiva para o corpo do outro enquanto treina. É assédio. E assédio tem de ser denunciado.

As roupas ajustadas servem para melhorar a performance. O corpo do atleta, em movimento, exige concentração. Uma pessoa constrangida prende o gesto, perde desempenho. Quem compete está “pro jogo”; quem posa, está “pra exibição”. E são mundos diferentes. Uma mente saudável vibra junto, joga junto. Covardia é atravessar esse momento com malícia — é baixo, vil e arrogante.

Na musculação, não é diferente: beleza é resultado, mas saúde é o propósito. E cada tribo vai ao seu modo — alguns para socializar, outros para se distrair, e muitos para superar limites. O erro está em obrigar o outro a caber na sua visão ou desejo.

E aqui volto ao poder.

Muitos tentam, centenas e milhares mergulham na vida fitness, mas esse jogo não é para todos — é só para quem pode. E poder aqui não é ter mais peso na barra: é ter soberania sobre si.

Quem define o que pode ou não na sua vida? Quem determina seu limite de água diário, se vai ter sobremesa mesmo, seu descanso? Quem tem o poder de dizer até onde vai a sua determinação?

Se esse poder está nas suas mãos, você treina o corpo — mas comanda o mundo.

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Por Fernando P. Souza

"Crio mundos com palavras. Amante do café e dos direitos naturais do homem.  Escrevo sobre dignidade, liberdade e o peso leve da existência."

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