Quando o “pode contar comigo” vira silêncio

Derivado do poema: Uma pecinha que me Faltava

Há dores que não vêm de gritos — vêm da ausência.
O golpe mais duro não é o do inimigo declarado, mas da presença prometida que vira silêncio quando o agora exige coragem.

“Pode contar comigo”, dizem.
E somem.
Não por maldade declarada, mas por descaso disfarçado de afeto, uma hipocrisia polida que fere mais do que o desprezo cru.

Para quem caminha sob a ética de Proutení, isso não passa despercebido.
A dor é real — mas a resposta é escolha.

🌿 Dignidade: não mendigar, nem endurecer

A dignidade é inegociável.
Ela diz:
“Você não precisa implorar por quem não está.
E não precisa se vingar para provar que sentiu.”

O silêncio dos outros não define tua inteireza.
Ser digno é saber se retirar sem amargura e dizer, se preciso:
“Eu confiei. Você não ficou. Não te acuso, mas me cuido.”

🤫 Silêncio ativo: escuta que protege

Não se oferece o íntimo a quem não sabe ler silêncio.

A escuta é sagrada — e deve ser protegida.

Nem toda ausência é crueldade — às vezes é imaturidade, medo ou confusão.
Por isso, Proutení ensina: escuta antes de julgar, observa antes de cortar.

🔥 Paixão imanente: agir com verdade, sem revanche

Você pode dizer:
“Prefiro silêncios verdadeiros à promessas sem chão.”
— e seguir com firmeza e compaixão.

A paixão, aqui, não é impulso reativo — é movimento vital.

É possível ensinar sem ferir.
E recusar promessas frágeis sem arrogância.

🛡️ Como se proteger, sem se fechar

1. Teste antes de confiar

Julgar, mas não sentenciar

Nem toda palavra é casa. Nem toda promessa é chão.
Confiar não é abrir a porta para qualquer presença — é observar com sensibilidade e demora. A dignidade não se fecha, mas também não se entrega ao primeiro aceno de afeto. Proutení nos ensina a perceber, antes de apostar. A escuta se oferece, mas não se desperdiça.

Julgar não é condenar: é discernir onde cabe tua entrega.

Quem promete demais, pode estar fugindo de si mesmo. E quem não te lê com profundidade, talvez não tenha fôlego para te acompanhar.

Confiança é dom precioso. Oferece-a com alma, mas com critério também.

2. Valorize vínculos lentos

Presença real leva tempo para florescer. Assim como o fruto só nasce após estações inteiras de cuidado, os vínculos verdadeiros se revelam no tempo do cultivo. O tempo da confiança é o tempo da natureza em cada ser — cada alma tem seu ritmo, seu modo de se aproximar.

Quem deseja tua companhia precisa aprender teu solo, tua linguagem silenciosa, teus ciclos. A pressa gera laços frágeis. Não tenha medo de ser lento ao confiar.

A pressa exige respostas.

A profundidade oferece permanência. Valorize quem permanece mesmo sem exigir. Porque amor, em Proutení, é presença sem urgência.

3. Expresse, sem exigir

O presente como construção do futuro e do passado

O que se sente pode — e deve — ser dito com cuidado.
Mas cuidado não é censura: é amor pelo outro e por si.

Proutení convida à expressão sem cobranças: uma fala que se oferece, não que impõe. Dizer o que dói ou o que sonha é um gesto de coragem, não de cobrança.

A exigência constrange; a partilha abre caminhos.

Hoje construo lembranças. E sigo em busca dos projetos.

Aquilo que digo hoje pode se tornar o lugar onde alguém se lembra de mim amanhã. Falar com doçura é cuidar do tempo. Escutar com presença é preparar o terreno da memória.

4. Perdoe sem repetir o erro

A primeira vez é dor, a segunda é escolha

Perdoar é libertar — mas não é esquecer o que se aprendeu.

A dor que chega pela primeira vez não é tua culpa. Mas se tu a convidas de novo, é escolha. Proutení convida à compaixão lúcida: um perdão que acolhe sem permitir reincidência. Amar à distância também é amor. É cuidar do próprio coração sem deixar de desejar o bem ao outro.

Quem fere uma vez pode estar perdido; quem fere duas, talvez não queira te encontrar.

Protege tua alma como quem guarda um fogo sagrado. Perdoa, sim. Mas não te abandona tentando ser justo.

Justiça também é zelo de si.

5. Diga “não” com ternura

Seja prioridade aos teus propósitos e aos teus

“Preciso de vínculos reais. Me protejo com amor.”

Esse “não” é altar — não é agressão.
Dizer “não” com ternura é reconhecer que tua alma tem peso, tem projeto, tem caminho. Não és ponte para passagens momentâneas, nem abrigo para quem se esconde da própria dor. És casa viva — e toda casa precisa de portas. Quando colocas limite com gentileza, você se afirma no mundo sem excluir ninguém. Proutení te convida a proteger o que tens de mais sagrado: tua inteireza.

Quem não respeita tua presença, não deve ter acesso à tua entrega. Dizer “não” é uma forma de amar com sabedoria. E de se manter fiel à tua travessia.

🌱 Conclusão

Proutení não ensina a ser frio.
Ensina a ser inteiro.
A ausência dói, sim — mas não te define.
A presença real exige responsabilidade, mas nunca se implora.

Você não precisa ser duro para se proteger.
Basta ser verdadeiro.
E confiar que a tua luz, quando respeitada, atrairá apenas quem sabe permanecer aceso ao teu lado.

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Por Fernando P. Souza

"Crio mundos com palavras. Amante do café e dos direitos naturais do homem.  Escrevo sobre dignidade, liberdade e o peso leve da existência."

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